09 abril 2012

Não sabia ler e virou escritora


Lydia não sabia ler e virou escritora
Escrito por Laís Duarte   

Foi a Terra Indígena Guarani Piaçaguera, na divisa de Itanhaém com Peruíbe, no litoral paulista, o berço de Lydia da Silva Gonçalves. O pedaço de chão, que o avô doou para o pai, o pai doou para ela. Dali Lydia tirava o sustento da família. Capinando a roça, ficou viúva, com quatro filhos, aos 23 anos. Casou-se outra vez. Aumentou a prole com mais duas crianças.

Aos 65 anos, resolveu legalizar a área herdada e foi trapaceada por um advogado. Tudo porque não sabia ler. Decidida a não ser passada para trás de novo, lá foi ela se matricular na escola.

Quem diria: tomou gosto pela coisa. Entrou no curso de Pedagogia da Universidade Aberta para a Melhor Idade. Tomada pelas letras, pôs a caneta para funcionar. Das mãos que não sabiam escrever brotaram poemas e contos. Lydia publicou em 2007 A Felicidade Está a sua Espera, seu primeiro livro.

Nas páginas, escritas com capricho, fala do prazer de vencer desafios. Os versos, guardados por tanto tempo, explodiram: Meus olhos revelam minha liberdade. Agora sei a verdade de mim mesma e sou feliz. Gostou tanto de ser autora que botou as mãos à obra para escrever Mosaico Caiçara.

Agora resgata a cultura de seu povo em uma coletânea de contos infantis que logo estará na gráfica. De posse das palavras e da própria vida, aos 73 anos Lydia recuperou as terras, planeja mestrado e doutorado em Educação, pois descobriu que o saber é libertador. “Nunca é tarde para aprender. Se a gente quer, consegue”, reforça.


SAIBA MAIS 
Mosaico Caiçara
, de Lydia da Silva Gonçalves (Inteligência, 2009).

Nenhum comentário:

Postar um comentário